São Paulo, 10 de dezembro de 2012
Quando surgiu a vontade de criar algo, desenhar, pintar?
Nasci e me criei em Santos Dumont, uma cidade pequena no interior de Minas Gerais. Ali, toda a vida cotidiana era fincada na experiência sensível. Construíamos nossos próprios brinquedos, costurávamos nossas roupas.
Tudo era criado, inventado no dia a dia. Nada estava pronto. Criar era cotidianamente necessário. Na adolescência ajudei a organizar a primeira biblioteca da cidade – trazia livros pra casa, lia‐os durante a noite pra devolver no dia seguinte. A literatura veio ampliar na minha vida cotidiana a possibilidade de ter mundos imaginados.
Foi um longo caminho de volta até o desenho. Atuei em outros setores da sociedade, como bancária, funcionária pública, mas vivia sempre ligada à literatura, à poesia. Descobri a possibilidade do desenho no curso do Silvio Dworek, em seguida no curso do Dalton de Luca e escolhi as artes plásticas como campo de atuação quando entrei na faculdade Santa Marcelina, aos 43 anos. Portanto, foi uma opção da maturidade.
No seu processo criativo... o que te inspira a criar?
O que me leva a trabalhar é a necessidade de reinventar o cotidiano. Compreender o mundo e a vida. Nesse sentido tudo é material: as manhãs cinzas, a dor em dias azuis, caminhar na Avenida Paulista pela manhã junto com o movimento de quem está a caminho do trabalho e daqueles que estão às margens vagando sujos no abandono.
Estar ao lado de todos. A cidade e suas incongruências sempre me inspiram e me encantam. Alimento‐me de muitas fontes. Por exemplo, nos últimos meses, alimentei‐me de ver os filmes Fausto de Alexander Sokurov e Pina Bausch de Wim Wenders, de ler os poemas em Flagrantes do Tempo de Luciana Tonelli, de conhecer o trabalho do artista chinês Tehching Hsieh, na 30a. Bienal...
Como conectar + os brasileiros com a arte em todas as suas formas (partes visuais, música, dança….)
Acho essa pergunta bem difícil. Ela pressupoe uma resposta de uma receita e eu não tenho nenhuma. Nós, os brasileiros, somos muitos ‐ diversos e desiguais. Aqueles que podem usurfruir da arte o fazem com muita propriedade, na música, na dança . Não apenas usufruimos, criamos.
Nossa música, nosso corpo dançante, são maravilhosos. São mundialmente
reconhecidos. O campo das artes plásticas é mais elitista, mas eu acredito na educação, na possibilidade de experimentação livre em casa, na escola, na rua, sem expectativas de sucesso. Acredito que uma educação pública de qualidade propiciaria uma convivência com a desigualdade, em consequência a troca entre os desiguais poderia ser maior, mais rica.
Como a arte pode mudar o estado de esprírito de alguém?
A arte atua no sensível. Uma música pode mudar o espirito de muitos, um bom filme, um bom livro. Uma obra pode tocar e transformar quem está com os poros abertos pra receber…