Exposição: O que não é floresta é prisão política
Abertura: domingo, 15 de setembro 2019, das 14h às 20hs.
Local: Galeria Reocupa, Ocupação Nove de Julho/MSTC
“Os que queimam, impunes, a morada ancestral, projetam no céu mapas sombrios” (Milton Hatoun)
O “Fim que se aproxima” é o nome do poema que o escritor Milton Hatoum publicou em jornais e redes sociais, quando o fogo mal se apagara na Amazônia brasileira, nos últimos dias do mês de agosto de 2019.
Quando nós, artistas, começamos a pensar e a planejar a exposição O que não é floresta é prisão política, ainda não tínhamos no horizonte os incêndios na Floresta Amazônica, tampouco as notícias dos mandados de prisão das lideranças dos movimentos por moradia, como é o Movimento Sem Teto do Centro, o MSTC. Mas sabíamos ou intuíamos que o inaceitável se aproximava.
O que não é floresta é prisão política é uma exposição que nasce portanto neste contexto. É uma mostra em curso que, como uma floresta, não se fecha e se realiza de forma colaborativa. Não há uma curadoria, ou, se há, ela é coletiva, múltipla, tomando emprestado a imagem da floresta para um fazer, um produzir que se contamina entre si, apesar das diversas práticas artísticas de cada participante dessa exposição. Assim, não há uma hierarquia na montagem nem na seleção das obras, mas sim a intenção de construir, ao organizá-las no espaço expositivo, um sentido sensível.
O que não é floresta é prisão política se inaugura com trabalhos de mais de 60 artistas brasileiros e brasileiras, numa lista em composição que hoje conta com 93 convidadas e convidados. É por isso, também, que não há uma data limite para encerramento da exposição que é, portanto, uma mostra em processo e que se ativa em eventos que serão programados para acontecer a cada semana, continuamente.
A proposição da exposição O que não é floresta é prisão política partiu de dois pontos que, embora distintos, parecem se tocar. A floresta, a terra-floresta, para os Yanomami, a pele da terra que é fluída, sem fronteiras. A mãe-terra e seus auto ajustamentos em função da necessidade de produzir e sustentar a vida. Um sistema que não tem lei e é cooperativo, que não depreda recursos e garante a sua continuidade. Um sistema no qual, até hoje, parecem ser o índios os seres humanos que sabem compor, cooperar, onde há floresta. Seria então a floresta um ente que pode se contrapor às tantas formas de dominação, como escreveu o grupo Centelha, em seu primeiro livro intitulado Ruptura (n-1 edições, 2019): “Se ela é alvo maior do fascismo é porque novas formas de relação com a natureza implicam mutações econômicas e políticas profundas”.
Nosso segundo ponto de partida: a prisão. Claro, impossível não pensar no Brasil desde 2014 como uma imensa e contígua prisão. “Porque falo em ‘pequena prisão’? Exatamente porque, iludidos com uma sociedade autoproclamada ‘livre’, vivemos na verdade numa imensa, cada vez maior, prisão (...)”, escreveu Igor Mendes, em seu relato de cárcere, publicado em A Pequena Prisão (n-1 edições, 2017). Emprestamos dele, portanto, este começo, ele que é um dos 23 condenados, no Rio de Janeiro, por participar de manifestações durante a Copa do Mundo de 2014. Ele que, como Rafael Braga, Preta Ferreira e Carmen Silva, e tantos outros e outras, sofrem as perseguições dos aparelhos de Estado, por não deterem a marcha rumo à liberdade e para a construção do comum.
Sobre a Galeria Reocupa
Inaugurada em outubro de 2018 com uma exposição de Nelson Felix (Esquizofrenia da forma e do êxtase), a Galeria Reocupa está situada no hall de entrada original do prédio onde antes funcionava uma unidade do INSS e hoje é a Ocupação 9 de Julho. A utilização da Reocupa se faz através de trocas e convívios entre uma rede de artistas, os integrantes do MSTC e moradores da Ocupação. O que não é floresta é prisão política é a primeira exposição coletiva da galeria.
Sobre a Ocupação 9 de Julho
Localizada no centro de São Paulo, na Bela Vista, o prédio da Ocupação 9 de julho representa um marco de luta por moradia social no Centro, e importante ponto cultural da cidade. O MSTC realizou um esforço pela valorização do prédio, acondicionando os espaços não só às necessidades dos moradores e o cumprimento da normativa vigente, quanto a sua adequação para dar espaço a uma quadra esportiva, horta comunitária, biblioteca e brinquedoteca, marcenaria, além de uma cozinha coletiva. Esses espaços e a gestão coletiva deles fazem com que a Ocupação 9 de Julho torne-se um exemplo de equipamento cultural - bem ali onde poderia existir o escuro e a invisibilidade, o apagamento e o silêncio, há a reabilitação da voz, da vida e dos afetos através da expressão artística e simbólica para a construção de um mundo possível.
Sobre o MSTC
Fundado em 2001, o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) atua na mobilização e organização de famílias sem teto que estão na luta por moradia digna. O movimento promove ações e debates, junto ao governo e a sociedade civil, para que o direito constitucional de acesso à moradia seja cumprido pelo Estado, corrigindo as falhas cometidas há décadas pelo poder público, no que tange a distribuição urbanística e habitacional das metrópoles brasileiras. Atualmente, o MSTC conta com 10 prédios ocupados em São Paulo, habitados por trabalhadores de baixa renda, crianças, jovens, adultos e idosos, incluindo imigrantes e refugiados, que transformam os locais abandonados, depredados e sem função social, em um lares organizados, com capacidade residencial e produtiva.
O que não é floresta é prisão política
Vídeo - 1"10 em looping Três esculturas congeladas são registradas em seus processos de derretimento, formando um tríptico em vídeo. Cada escultura é composta por uma matéria diferente: o urucum, planta utilizada na pintura corporal dos índios Tupinambá; o barro preto do mangue da ilha de Itaparica, na Bahia; e o sangue da artista, em intervenção no Memorial da América Latina (SP). Juntas, compõem uma narrativa que remete ao tempo – da história, de um lugar e da arte.
Vídeo - 1"10 em looping Três esculturas congeladas são registradas em seus processos de derretimento, formando um tríptico em vídeo. Cada escultura é composta por uma matéria diferente: o urucum, planta utilizada na pintura corporal dos índios Tupinambá; o barro preto do mangue da ilha de Itaparica, na Bahia; e o sangue da artista, em intervenção no Memorial da América Latina (SP). Juntas, compõem uma narrativa que remete ao tempo – da história, de um lugar e da arte.
Instalação Elefante em pelúcia suspenso por fios de náilon e texto colado no chão em adesivo transparente Medidas 58cm x 33cm x 20cm Ano - 2019
Instalação O elefante de pelúcia é vendido na internet com o texto que está colado em adesivo transparente no chão. Este texto explicita o imaginário construído de animal selvagem e de selva distante – uma África imaginada, uma paisagem à distância. Enquanto a paisagem ao redor – nossas florestas e matas, junto com seus animais, são destruídas. A propaganda de venda transforma o animal “selvagem” em pelúcia e promete um ar de selva para sua casa.
O ato de suspender o elefante: quando a realidade ao redor extrapola nossa capacidade de aceitação ou de compreensão, suspender um elefante anunciado no sonho pode ser uma janela para outras possibilidades de ver e de agir, que se encontram para além do real. Surreal: 1.que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão, ou que pertence ao domínio do sonho, da imaginação, do absurdo.
Texto adesivo colado no chão embaixo do elefante.
Tela de fachadeiro (daquelas utilizadas como proteção em reformas ou construção de prédios) bordadas com os nomes de 23 povos indígenas. Reconhecimento, celebração e homenagem aos povos da floresta, considerando o valor do ponto de vista simbólico, de instalar os seus nomes publicamente, como papel social da nomeação. A obra se completará ao somar os 254 nomes dos povos existentes no Brasil.
Tela de fachadeiro (daquelas utilizadas como proteção em reformas ou construção de prédios) bordadas com os nomes de 23 povos indígenas. Reconhecimento, celebração e homenagem aos povos da floresta, considerando o valor do ponto de vista simbólico, de instalar os seus nomes publicamente, como papel social da nomeação. A obra se completará ao somar os 254 nomes dos povos existentes no Brasil.
Tela de fachadeiro (daquelas utilizadas como proteção em reformas ou construção de prédios) bordadas com os nomes de 23 povos indígenas. Reconhecimento, celebração e homenagem aos povos da floresta, considerando o valor do ponto de vista simbólico, de instalar os seus nomes publicamente, como papel social da nomeação. A obra se completará ao somar os 254 nomes dos povos existentes no Brasil.