tu pisavas nos astros distraída
Trabalho site-específico criado especialmente para a mostra "Passagens", do Projeto Tripé - SESC Pompéia | São Paulo (BRA)
Durante um longo tempo trabalhei com a idéia do Mínimo como escala, construindo Monumentos Mínimos em gelo que, além de pequenos, desapareciam. Num segundo momento, acumulava o Mínimo em grande quantidade nos espaços urbanos - a sua multiplicação alcançava uma escala grandiosa. Nem por isso os Monumentos deixavam de ser Mínimos.
Compreendi que o Mínimo busca o essencial: não está mais, necessariamente ligado à escala, mas a uma procura de precisão, de economia, de síntese poética.
É nessa busca de precisão e síntese que me interessei pelo espaço arquitetônico do hall do teatro do Sesc Pompéia, lugar que abriga o projeto Tripé.
Para intervir no espaço urbano ou arquitetônico, é preciso antes, de algum modo, habitá-lo. Esse habitar trouxe-me Tu pisavas nos astros distraída.
O hall é um lugar de passagem, de espera. Os materiais de sua arquitetura são orgânicos e revelados: as paredes em tijolos vermelhos e em concreto, o chão em pedras e o teto em madeira e vidro por onde entra a luz. Essa transparência luminosa mais a lembrança dos versos da canção “Chão de Estrelas” (de autoria de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas) levaram-me a construir a passagem/metáfora entre as duas instâncias: o teto de vidro e o chão de pedras. A imagem construída do teto é colocada no chão criando uma passarela de 51 metros (daí a sua escala não ser mínima) que se estende por todo o hall como passagem entre o que está em cima e o que está embaixo.
Essa passagem é uma região topológica: há uma linha, um desfiladeiro frágil que o homem percorre e ali habita o poema, a linguagem, o símbolo.
São Paulo, 5 de fevereiro de 2008
Néle Azevedo
Publicado no Catálogo do Projeto Tripé de 2007 – São Paulo – Sesc Pompéia